sábado, 20 de março de 2010

Caso Adriano e Vagner Love: preconceito e hipocrisia/ Por Claudio

Adriano e Vagner Love se envolveram em mais uma polêmica. Envolveram-se não, foram jogados na história. O ataque do Flamengo está sendo marcado por um falso moralismo por parte da imprensa, torcedores e polícia.


Vamos deixar de hipocrisia de lado. Os dois jogadores mais badalados do rubro-negro são de origens humildes; nascidos e criados nas favelas cariocas. É evidente que eles conhecem todo o tipo de gente: honestos trabalhadores, traficantes, honrados pais de família, bandidos, dignas donas de casa, prostitutas; enfim, um enorme mosaico social que só quem viveu nas periferias das cidades pode entender.


Como disse o próprio Vagner, eles conheceram e tiveram amigos que morreram por causa da violência urbana. Porém, é hipócrita e preconceituoso afirmar que os dois atacantes têm qualquer envolvimento com o crime organizado só porque viveram e ainda freqüentam as favelas do Rio de Janeiro. Os subúrbios das grandes cidades é um grande retrato da sociedade brasileira, e nele existe todo o tipo de gente, todo o tipo de caráter.


É fácil por a culpa na favela e nos moradores. É tranqüilo e confortador apontar o dedo contra os subúrbios e responsabilizá-los por todos os males da sociedade. O difícil é admitir que o tráfico de drogas e, conseqüentemente, a criminalidade seja financiado por empresários, políticos e uma grande massa consumidora de entorpecentes dos bairros de classe média e alta.


Se o povo da periferia convive com a violência, as drogas e armas para todos os lados, a culpa não é dos moradores, que são em grande maioria mulheres e homens honestos. Estes são tão vítimas das mazelas sociais quanto os assaltados do ‘asfalto’.


Pior é ter que ouvir a hipócrita opinião de Luiz Zveiter, desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Rio de Janeiro. Ele diz que a atitude de Vagner Love não é exemplo. Conhecendo o passado deste cidadão, fica a pergunta: quem é ele para dizer o que é ou não exemplo?


Por sua vez, a imprensa esportiva ultimamente está caindo para um repugnante padrão ‘Ti-ti-ti’ de jornalismo. Não é da conta de ninguém saber sobre a noiva do Adriano, o baile do Love, o pagode do Ronaldinho Gaúcho, o casamento do Ronaldo, o acarajé do Obina e muito menos a namorada misteriosa do Neymar.


Se o assunto interfere em campo, como foi o escândalo Terry/Bridge na Inglaterra, até que dá para entender. Agora, invadir a privacidade de qualquer pessoa não é direito de ninguém, muito menos da imprensa. Uma simples curiosidade do público não é motivo para divulgar o que acontece embaixo dos lençóis alheios.


A imprensa tem o direito tentar investigar um caso relevante, mas não é sua função julgar ninguém. Isso cabe a justiça, que tem todo o direito de inquirir qualquer cidadão. Porém, não é porque o cara resolveu passear na favela onde nasceu que ele é traficante. Até que se prove o contrário, este caso tem sido tratado apenas com o olhar preconceituoso contra quem é/foi da periferia. E também parece uma aquela grande canalhice por parte da polícia de pegar um famoso para tentar mostrar alguma eficiência.


Não estou aqui para defender os jogadores. E nem afirmar a inocência ou culpa deles. Não sou investigador, policial ou juiz de direito. O que não é correto são os pré-julgamentos e o preconceito contra qualquer pessoa – e neste caso, os moradores da periferia. Se Adriano e Vagner Love têm algum envolvimento com o crime organizado, então que se prove primeiro antes de apontá-los como culpados.

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